Ouço vozes. Serão vozes de quem chora?
(tatu-canastra, toninha, tatu-bola).
Vozes. Vêm do rio, do céu, da montanha?
(onça-pintada, ararinha, ariranha).
Vozes. E não posso me fazer de surdo
(sagui-da-serra, macaco-barrigudo).
Serão vozes? Ouço gritos? Ouço dores?
(veado-campeiro, sagui-de-duas-cores).
Ouço. Soa bem mais alto que a palmeira
(gato-do-mato, preguiça-de-coleira).
Ouve? Sim, o tempo parece parado
(jaguatirica, mico-leão-dourado),
parado, quebrado, não sei o que foi
(macaco-aranha, jacaré, peixe-boi).
Ouve? Põe o ouvido aos pés da ribanceira
(gato-palheiro, tamanduá-bandeira).
Ouço. Ouve! Não é o canto da Iara.
Não é a Iara. São os irmãos da Iara.
Ouve! O canto triste que vem de tudo.
Ouve! Um canto triste ao redor do mundo.
Eucanaã Ferraz - Poemas da Iara