Avelino Araújo
Abertura por onde sopra o vento da poesia e minha jangada atravessa em direção ao mar literário, pescando palavras, sons, imagens, compondo esse museu de mim e não deixando morrer asfixiada a alma.
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
domingo, 20 de novembro de 2011
Cabimento
Como uma agulha cabe numa caixa de fósforos
ou num caixão
num palheiro num jardim no bolso de uma pessoa
na multidão
caminhão montanha tudo cabe em seu tamanho
tudo no chão
hoje eu caibo nesse mesmo corpo que já coube
na minha mãe
minha mãe
minha avó
e antes delas minha tataravó
e antes delas um milhão de gerações distantes
dentro de mim
um lugar
num porão
uma cama num colchão
como um átomo num grão
uma estrela na galáxia
como a bala de revólver cabe no revólver
cabe também
numa caixa num buraco bem no centro do alvo
ou em alguém
onde cabem coração cabeça tronco e membros
soltos no ar
como cada gesto cabe no seu movimento
muscular
só nós dois
meu amor
não cabemos em mim ou em você
como toda gente tem que não ter cabimento
para crescer
Composição: Arnaldo Antunes e Paulo Tatit
Intérprete: Arnaldo Antunes
ou num caixão
num palheiro num jardim no bolso de uma pessoa
na multidão
caminhão montanha tudo cabe em seu tamanho
tudo no chão
hoje eu caibo nesse mesmo corpo que já coube
na minha mãe
minha mãe
minha avó
e antes delas minha tataravó
e antes delas um milhão de gerações distantes
dentro de mim
um lugar
num porão
uma cama num colchão
como um átomo num grão
uma estrela na galáxia
como a bala de revólver cabe no revólver
cabe também
numa caixa num buraco bem no centro do alvo
ou em alguém
onde cabem coração cabeça tronco e membros
soltos no ar
como cada gesto cabe no seu movimento
muscular
só nós dois
meu amor
não cabemos em mim ou em você
como toda gente tem que não ter cabimento
para crescer
Composição: Arnaldo Antunes e Paulo Tatit
Intérprete: Arnaldo Antunes
Palavra Acesa
Arquivo pessoal - FLIPIPA 2011
Se o que nos consome fosse apenas fome
Cantaria o pão
Como o que sugere a fome
Para quem come
Como o que sugere a fala
Para quem cala
Como que sugere a tinta
Para quem pinta
Como que sugere a cama
Para quem ama
Palavra quando acesa
Não queima em vão
Deixa uma beleza posta em seu carvão
E se não lhe atinge como uma espada
Peço não me condene oh, minha amada
Pois as palavras foram pra ti amada
Pra ti amada
Oh! Pra ti amada
Composição: José Chagas e Fernando Filizola
Intérprete: Quinteto Violado
Disponível em: http://letras.terra.com.br/quinteto-violado/48178/
Além Alma
Meu coração lá de longe
faz sinal que quer voltar.
Já no peito trago em bronze:
NÃO TEM VAGA NEM LUGAR.
Pra que me serve um negócio
que não cessa de bater?
Mais me parece um relógio
que acaba de enlouquecer.
Pra que é que eu quero quem chora,
se estou tão bem assim,
e o vazio que vai lá fora
cai macio dentro de mim?
faz sinal que quer voltar.
Já no peito trago em bronze:
NÃO TEM VAGA NEM LUGAR.
Pra que me serve um negócio
que não cessa de bater?
Mais me parece um relógio
que acaba de enlouquecer.
Pra que é que eu quero quem chora,
se estou tão bem assim,
e o vazio que vai lá fora
cai macio dentro de mim?
Arnaldo Antunes e Paulo Leminski
Disponível em: http://www.arnaldoantunes.com.br
FLIPIPA
No país em que as palavras brotavam das árvores estive na companhia dos livros,
Arnaldo Antunes,
Fernando Morais
e amigos preciosos!!!
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Encantos da Iara III
Quero sonhar e acordar noutro tempo,
quero fazer outro mundo, sem fim:
os rios limpos, serenos, contentes!
E eu não deixasse de ser curumim.
Um tempo nosso, só de coisas claras...
E lá
no fundo de tudo
a Iara.
Eucanaã Ferraz - Poemas da Iara
quero fazer outro mundo, sem fim:
os rios limpos, serenos, contentes!
E eu não deixasse de ser curumim.
Um tempo nosso, só de coisas claras...
E lá
no fundo de tudo
a Iara.
Eucanaã Ferraz - Poemas da Iara
Encantos da Iara II
Ouço vozes. Serão vozes de quem chora?
(tatu-canastra, toninha, tatu-bola).
Vozes. Vêm do rio, do céu, da montanha?
(onça-pintada, ararinha, ariranha).
Vozes. E não posso me fazer de surdo
(sagui-da-serra, macaco-barrigudo).
Serão vozes? Ouço gritos? Ouço dores?
(veado-campeiro, sagui-de-duas-cores).
Ouço. Soa bem mais alto que a palmeira
(gato-do-mato, preguiça-de-coleira).
Ouve? Sim, o tempo parece parado
(jaguatirica, mico-leão-dourado),
parado, quebrado, não sei o que foi
(macaco-aranha, jacaré, peixe-boi).
Ouve? Põe o ouvido aos pés da ribanceira
(gato-palheiro, tamanduá-bandeira).
Ouço. Ouve! Não é o canto da Iara.
Não é a Iara. São os irmãos da Iara.
Ouve! O canto triste que vem de tudo.
Ouve! Um canto triste ao redor do mundo.
Eucanaã Ferraz - Poemas da Iara
(tatu-canastra, toninha, tatu-bola).
Vozes. Vêm do rio, do céu, da montanha?
(onça-pintada, ararinha, ariranha).
Vozes. E não posso me fazer de surdo
(sagui-da-serra, macaco-barrigudo).
Serão vozes? Ouço gritos? Ouço dores?
(veado-campeiro, sagui-de-duas-cores).
Ouço. Soa bem mais alto que a palmeira
(gato-do-mato, preguiça-de-coleira).
Ouve? Sim, o tempo parece parado
(jaguatirica, mico-leão-dourado),
parado, quebrado, não sei o que foi
(macaco-aranha, jacaré, peixe-boi).
Ouve? Põe o ouvido aos pés da ribanceira
(gato-palheiro, tamanduá-bandeira).
Ouço. Ouve! Não é o canto da Iara.
Não é a Iara. São os irmãos da Iara.
Ouve! O canto triste que vem de tudo.
Ouve! Um canto triste ao redor do mundo.
Eucanaã Ferraz - Poemas da Iara
Encantos da Iara
Sereia doce, que nos leva
para o fundo, não nos leve para
o fundo.
Mas, sereia doce, que nos leva
para o fundo, se houver
outro mundo
mais belo e profundo,
leva-nos - doce menina - para
o outro mundo.
Eucanaã Ferraz - Poemas da Iara
domingo, 13 de novembro de 2011
Ao som das violas!!!
CLOROFILA (Miguel Marcondes - Luís Homero)
Vê-se as flores naturais
Perfumando o ambiente
Parecendo e diferente
D'outras artificiais
Umas cheirando demais
E outra sem ser cheirosa
Quando o homem faz a rosa
Fica faltando a essência
Diante da providência
A ciência é enganosa
(Zé de Cazuza)
Do jeito da brisa
suave a tocar
O verde das folhas
Vai clorofilar
Perfumando campos
E ares da terra
A cor do planeta
Vive sempre a mudar
Estrelas e luas
Vão iluminar
O escuro da noite
No azul infinito
Bonito de se vê
Nem tudo que se lê
Está escrito
É fácil de fazer
Difícil é dizer
O que nunca foi dito
Castelos e sonhos
Vão sempre existir
Trazendo motivos
Pra quem vai seguir
Alimentando
O sentido da vida
Segredos do mundo
Na face do chão
Estradas e linhas
Na palma da mão
Traçando o destino
E eu acredito
Bonito de se vê
Nem tudo que se lê
Está escrito
É fácil de fazer
Difícil é dizer
O que nunca foi dito
Vates e Violas - CD Quem não viaja, fica!
Ouça, baixe: http://www.vateseviolas.com.br/wp-content/plugins/downloads-manager/upload/01%20Clorofila.mp3
O Grupo Vates e Violas é formado pelos irmãos Miguel Marcondes e Luís Homero, filhos do poeta popular paraibano Zé de Cazuza.
Em Campina Grande!!
Arquivo Pessoal
Uma vez em Campina Grande
Perto da Maciel Pinheiro
Tomei tanto sorvete de rainha
Que o Rei Luís de França
Resolveu bombardear o Japão.
Acuda-me Zé Limeira, nego véio,
Tocaram fogo no Cariri
Só pra que eu pudesse rimar
Tatu com xixi.
Chico Doido - 69 poemas de Chico Doido de Caicó
Uma vez em Campina Grande
Perto da Maciel Pinheiro
Tomei tanto sorvete de rainha
Que o Rei Luís de França
Resolveu bombardear o Japão.
Acuda-me Zé Limeira, nego véio,
Tocaram fogo no Cariri
Só pra que eu pudesse rimar
Tatu com xixi.
Chico Doido - 69 poemas de Chico Doido de Caicó
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
Riqueza de Pescador
Imagem disponível em http://antonio-mp.blogspot.com/2010_05_01_archive.html
"Cachorro mago,
jangada ligeira,
morena queimada pelo sol do Senhor
é toda a riqueza do pescador"
Gilvan Chaves
Disponível em: http://www.radioforroemvinil.com/
[PÓS - SESSÃO]
"Tu podes calar a minha boca
Mas não te iludas,
não podes calar a minh'alma
Mas se por acaso calares minh'alma
Ficarei nas almas que não calam as bocas"
Alessandre de Lia
Mas não te iludas,
não podes calar a minh'alma
Mas se por acaso calares minh'alma
Ficarei nas almas que não calam as bocas"
Alessandre de Lia
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Botero
LUXÚRIA
Maria Augusta de Aguiar Botelho
De olhar negro e pele muito branca
Quando passava balançando as ancas
Sentia o cheiro daqueles pentelhos.
Como eu queria osculá-los, tê-los
Vê-los com a lupa do cruel desejo
Mordê-los, pinicá-los, dá-los dez mil beijos
Aquele púbis foi meu desmantelo.
Um dia Deus me concedeu a glória
De ver despido aquele corpo santo
Me ajoelhei feito um fiel, aos prantos
Disse: Senhor, quem sou pra merecê-lo?
Ele me disse: Filho... É só luxúria!
Maria Augusta de Aguiar Botelho.
Luciano Nunes
domingo, 6 de novembro de 2011
Solidão das pérolas!!!
Sapatos - Van Gogh
MARINHA
Por onde andam os meus sapatos de galante
Aqui passaram? Perguntei ao cabineiro
Agasalhei meus pés de sons extravagantes
No olhar distante desse tempo marinheiro
Atravessando oceanos de sandice
Os meus sapatos de marinha me perderam
Nas correntezas abissais. Que onda triste
Naufragou-me? Ressuscitando perguntei ao manobreiro
- As ondas turvas do desejo - ele me disse.
Toma outra vez o teu lugar de passageiro.
Fiquei na proa ouvindo o mar e sua prece
Pequena lágrima de versos vanguardeiros.
Então pedi à solidão que me guiasse
Ela me disse: - Vai, meu faroleiro!!
Luciano Nunes
Doce cheiro da memória!!
Baobás Africanos
DEVER DE CASA
Era tempo de Deus, e Deus chegava
imprevisto e, quase sempre, ao fim da tarde:
ao chegar, abria as portas que eu fechava
revelando, a um passo, a eternidade.
Tinha Deus, o esplendor de um feriado
aberto à inocência e aos brinquedos:
nesse tempo de paz e chão molhado
eu via Deus e não sentia medo.
O que sonhava, comigo Deus sonhava,
o sol, o céu, o mar, tudo era nosso:
se queria pescar, Deus não deixava,
a alma desconhecia o que é remorso.
O tempo, com insônia, não dormia,
e a vida, perambulando nos quintais,
apesar de ingênua e mansa já dizia
que esse tempo não voltava mais.
Passou o tempo, passei eu, passou
a vida, a cada dia mais remota:
só não passa, preservando o que restou,
o Deus que sonha e me abre as suas portas.
Jaci Bezerra
Fonte: BEZERRA, Jaci. Linha d'água. Recife: Companhia Editora de Pernambuco, 2007.
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