domingo, 6 de novembro de 2011

Doce cheiro da memória!!

Baobás Africanos

DEVER DE CASA

Era tempo de Deus, e Deus chegava
imprevisto e, quase sempre, ao fim da tarde:

ao chegar, abria as portas que eu fechava
revelando, a um passo, a eternidade.

Tinha Deus, o esplendor de um feriado
aberto à inocência e aos brinquedos:

nesse tempo de paz e chão molhado
eu via Deus e não sentia medo.

O que sonhava, comigo Deus sonhava,
o sol, o céu, o mar, tudo era nosso:

se queria pescar, Deus não deixava,
a alma desconhecia o que é remorso.

O tempo, com insônia, não dormia,
e a vida, perambulando nos quintais,

apesar de ingênua e mansa já dizia
que esse tempo não voltava mais.

Passou o tempo, passei eu, passou
a vida, a cada dia mais remota:

só não passa, preservando o que restou,
o Deus que sonha e me abre as suas portas.

Jaci Bezerra

Fonte: BEZERRA, Jaci. Linha d'água. Recife: Companhia Editora de Pernambuco, 2007.





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