quarta-feira, 14 de março de 2012



Sem que perceba o mar hoje espalhado
por tuas mãos e face,
reconquistando os tempos deslembrados
e esquecido de Deus, o vento nasce.

Queres há muito o mar e o mar se nega,
há muito, ao teu desejo,
que ao vento, só ao vento, o mar se entrega
e só o vento ao mar conserva aceso.

Não adianta ir de encontro às ondas
nem ir de encontro ao vento:
as águas açulando, o mar afunda,
à luz do sol, teus bruscos movimentos.

Aflita e, mais que aflita, desolada
da água em chamas recuas,
e sobre a areia expões sem expor nada,
os litorais da tua pele nua.

Distante o mar, viril, o vento estende
as mãos e acaricia
teu corpo que não quer, porém se rende
ao sol de abril, fugindo da água fria.

A partir desse instante apenas dormes,
dormes, nua e inerme,
entregue, toda, ao vento que percorre
por íntimos desvãos tua epiderme.

Jaci Bezerra - Livro de Olinda

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