Sem que perceba o mar hoje espalhado
por tuas mãos e face,
reconquistando os tempos deslembrados
e esquecido de Deus, o vento nasce.
Queres há muito o mar e o mar se nega,
há muito, ao teu desejo,
que ao vento, só ao vento, o mar se entrega
e só o vento ao mar conserva aceso.
Não adianta ir de encontro às ondas
nem ir de encontro ao vento:
as águas açulando, o mar afunda,
à luz do sol, teus bruscos movimentos.
Aflita e, mais que aflita, desolada
da água em chamas recuas,
e sobre a areia expões sem expor nada,
os litorais da tua pele nua.
Distante o mar, viril, o vento estende
as mãos e acaricia
teu corpo que não quer, porém se rende
ao sol de abril, fugindo da água fria.
A partir desse instante apenas dormes,
dormes, nua e inerme,
entregue, toda, ao vento que percorre
por íntimos desvãos tua epiderme.
Jaci Bezerra - Livro de Olinda
por tuas mãos e face,
reconquistando os tempos deslembrados
e esquecido de Deus, o vento nasce.
Queres há muito o mar e o mar se nega,
há muito, ao teu desejo,
que ao vento, só ao vento, o mar se entrega
e só o vento ao mar conserva aceso.
Não adianta ir de encontro às ondas
nem ir de encontro ao vento:
as águas açulando, o mar afunda,
à luz do sol, teus bruscos movimentos.
Aflita e, mais que aflita, desolada
da água em chamas recuas,
e sobre a areia expões sem expor nada,
os litorais da tua pele nua.
Distante o mar, viril, o vento estende
as mãos e acaricia
teu corpo que não quer, porém se rende
ao sol de abril, fugindo da água fria.
A partir desse instante apenas dormes,
dormes, nua e inerme,
entregue, toda, ao vento que percorre
por íntimos desvãos tua epiderme.
Jaci Bezerra - Livro de Olinda
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